A 4ª edição da pesquisa “Retratos de Família: Um panorama das práticas de governança corporativa e perspectivas das empresas familiares brasileiras”, realizada pela ACI Institute e Board Leadership Center da KPMG no Brasil, mostrou que as empresas familiares continuam a desenvolver de forma acelerada suas estruturas e práticas de governança corporativa.
Segundo a pesquisa, 67% dos entrevistados afirmaram se sentir otimistas em relação ao futuro e 56% não cogitam mudanças no formato de gestão.
Outro dado muito importante nessa análise é a participação feminina em empresas familiares. 59% dos participantes afirmaram haver em seus negócios cargos ocupados por mulheres (41% em conselhos de administração e 35% em cargos de diretoria).
Com mais de 35 anos no mundo corporativo e desde 2015 à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, auxiliando, inclusive, na implantação de Governança Corporativa em empresas familiares, hoje trago um artigo com orientações de gestão para empresas familiares no Brasil.
Particularidades das empresas familiares
Ter algum membro da família na gestão de uma empresa nem sempre quer dizer que se trata de um negócio familiar.
Para que seja classificada como uma empresa familiar, é preciso que o negócio conte com algumas características específicas, sendo o elemento família e patrimônio o referencial que torna uma empresa familiar.
Quando se fala em patrimônio ou propriedade, vale ressaltar que empresas do tipo familiar costumam ser controladas por uma instituição de determinada família, de forma parcial ou total.
No que se refere à organização, é levada em consideração a gestão por meio dos integrantes da família, seja no comando de uma equipe “técnica” ou por meio de uma execução direta da administração.
Há especialistas que acreditam que uma empresa familiar tem início a partir da primeira geração de uma família e se consolida e se confirma quando ocorre sucessão para uma segunda geração.
Por outro lado, há uma compreensão de que uma empresa é familiar quando os integrantes da família detêm maior parte da propriedade. Também há uma perspectiva de que o que torna um negócio familiar é quando ocorre estreitamento de laços entre gestão e família.
Muitas pessoas costumam associar empresas familiares a negócios de portes micro e pequeno, mas inúmeras organizações multinacionais contam com modelo de gestão familiar: Samsung, Facebook, Nike, Volkswagen, entre outras.
Empresas familiares no Brasil – Desafios e Gestão
Há quem afirme que a gestão de uma empresa familiar pode ser muito mais complexa do que em outros modelos de negócio, pessoalmente discordo, porque acredito que quando todos na empresa têm um propósito em comum (sendo familiar ou não), o resultado é o crescimento e desenvolvimento constante para expansão no mercado.
Dentre as principais vantagens em um negócio familiar “saudável”, destaco:
- Interesses em comum;
- Confiança mútua e autoridade definida e respeitada;
- Projetos de longo prazo;
- Cultura e valores preservados;
- Maior dedicação e envolvimento por parte dos sócios;
Entre outras.
Principais desafios para empresas familiares no Brasil
Abaixo destaco alguns dos desafios que mais costumo lidar em empresas do segmento familiar.
Definição da liderança – É preciso analisar com minúcia as qualidades, considerando as fraquezas e potencialidades de cada membro do negócio, para saber quem teria maior habilidade de gerenciar a organização de maneira organizada e estratégica.
Definição de regras – Ainda mais por ser uma empresa familiar, se torna indispensável a definição de regras claras, que determinem como cada membro do grupo deve se comportar.
Planejamento claro – As metas e objetivos precisam ser definidos de maneira clara para todos os envolvidos no negócio. A missão, visão e valores precisam estar muito bem definidos, afinal, será o norte de gestão e tomada de decisões da companhia.
Remuneração – Outro desafio para empresas familiares no Brasil está em não tratar o lucro como fonte de renda para os sócios. O pró-labore precisa ser muito bem definido no orçamento da organização. Aqui entra a necessidade de um bom controle financeiro.
Funções estabelecidas – É fundamental ter muito claro quais são as atribuições de cargo de cada envolvido, para que cada sócio desempenhe a sua função da melhor maneira possível.
Tomada de decisões – Questões familiares de cunho pessoal não podem interferir em decisões sobre o rumo do negócio. Por mais complexo que seja, já que não se pode separar o ser profissional do ser pessoal, ainda assim, é possível tomar decisões com foco apenas no bem-estar do negócio.
Interesses alinhados – É preciso ter muito claro no planejamento quais são as aspirações da empresa no mercado, tendo feito isso, os membros da empresa precisam estar certos sobre os interesses do negócio e repensar se cada atuação está caminhando para esse propósito em comum.
Quando saber se há a necessidade de ajuda externa?
Geralmente muitas empresas familiares acabam misturando finanças pessoais com finanças do negócio ou há casos em que não se toma uma atitude em relação a um membro da família que desempenha papel na gestão da empresa, o que consequentemente acarreta em prejuízos ao negócio.
Em casos de sinais de baixa lucratividade e gestão conflituosa, se torna necessária a intervenção externa de um especialista experiente.
Essa visão de fora trará ao negócio a clareza de que necessita e ajudará no processo de retomada saudável no mercado. A implantação de governança corporativa em empresas familiares é um importante caminho para minimizar os recorrentes problemas.
Carlos Moreira – Há mais de 35 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria) e CCO (Diretor Comercial e de Marketing). É empresário há mais de 15 anos e sócio e fundador da MORCONE Consultoria Empresarial.